sexta-feira, 15 de março de 2013

Opinião - Jesus Cristo Bebia Cerveja de Afonso Cruz

É com alguma desilusão que vos apresento aqui a opinião à minha estreia nas leituras de Afonso Cruz. Após ler e ouvir opiniões muito favoráveis acerca deste autor e nomeadamente do livro A Boneca de Kokoschka, decidi embarcar nesta leitura. Talvez seja por ter criado demasiadas expectativas mas este livro não me convenceu. Não quer isto dizer que não gostei, porque gostei, mas sim que após esta leitura não posso ainda classificar Afonso Cruz como um dos grandes nomes a ter em conta na literatura Portuguesa contemporânea comparando-o a autores como José Luís Peixoto, João Tordo, Gonçalo M. Tavares ou Valter Hugo Mãe entre outros. Este livro prova que o autor ainda está a alguma distância mas que no entanto tem potencial para chegar a patamares mais altos.

Afonso Cruz apresenta-nos um leque de personagens ricas identificadas com a dureza e crueza da vida no campo. Rosa, personagem principal, é uma jovem mulher atraente segundo os cânones da época. O Sargento Oliveira é a imagem de um brutamontes que faz uso da sua influência e poder para maltratar e tomar controlo através da força física daqueles que o rodeiam. Borja é um culto professor que se apaixona por Rosa após um acidente em que embate contra um boi. Ari, o pastor, é mais um dos homens que nutre por Rosa uma forte paixão lutando contra os ciúmes que tem devido à aproximação de Borja. Rosa viveu uma infância atribulada com a morte do seu pai e o abandono da sua mãe. Sozinha, Rosa é obrigada a cuidar sozinha da sua avó cujo envelhecimento a vai tornando cada vez mais dependente da bondade da neta. Empenhada em cumprir os desejos da sua avó e em tornar a sua estada o mais prazerosa possível, Rosa decide cumprir um dos seus desejos mais antigo: viajar até à Terra Santa. Contudo, viajar até à Terra Santa é incomportável na medida em que os meios financeiro não são suficientes e a saúde da avó já não o permite. A solução que Rosa, juntamente com algumas outras personagens como Borja, encontra, é a de transformar uma pequena aldeia alentejana na Terra Santa para que a avó se sinta verdadeiramente abençoada. O desenvolvimento da história baseia-se maioritariamente sobre esta premissa e oscila entre ambientes e acontecimentos de muita comicidade e entre acontecimentos de bastante tristeza e degradação.

A ideia é muito original como é possível perceber mas a aplicação dessa mesma ideia nem tanto. Tudo parece desenrolar-se muito "a correr" e deixa um certo sabor agri-doce no leitor. Estava à espera da criação de um Universo bastante mais complexo e o que lemos é algo que parece bastante desleixado e com pouca inspiração. Não deixa de estar presente uma considerável criatividade literária que fomenta o leitor a seguir de perto este escritor mas penso que este livro tinha potencial para ser bastante mais. É no entanto uma leitura muito agradável que oferece poucos obstáculos ao leitor na medida em que o estilo do autor é bastante simples, com frase e parágrafos curtos de fácil compreensão.

Em suma, estarei atento à carreira deste autor e quero ler mais livros da sua autoria em breve. Apesar desta minha opinião poder soar bastante negativa, gostei do livro e recomendo a quem procura uma leitura leve e descontraída com momentos de humor muito bem conseguidos e uma sociedade humilde muito bem retratada.

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