sábado, 2 de junho de 2012

Pão com Fiambre - Charles Bukowski

Charles Bukowski, escritor nascido na Alemana, criado na América. Poeta, romancista. Um dos meus preferidos. Um escritor marginal. Ou, tal como escrito numa das abas deste livro, escritor "marginal(izado). Alcoólico. Machista. Quase misantropo mas não na totalidade. Revoltado. Triste. Talvez nem tanto. Novamente, de sublinhar, um dos meus preferidos. Fora dos padrões impostos por uma sociedade dominadora. Lutador. Literalmente, com os seus punhos. Bukowski é daqueles que considero um génio. E não um génio comum. E já de um génio se espera um carácter incomum. Por isso talvez Bukowski seja mais que um génio. Talvez algo ainda sem nome. Invulgar decerto. A sua obra marca certamente. A força das suas palavras. A forma que as suas palavras tomam. A dor das suas palavras. Bukowski é genuíno. Não restem dúvidas acerca desse facto. Bukowski é isto. Bukowski é álcool. Bukowski é sexo. Bukowski é violência. Bukowski é linguagem ofensiva. Bukowski é grosseiro. Bukowski é também sensível. E solitário. Havia muita dor dentro dele que ficou posteriormente guardada nas suas páginas. Posto isto, vamos ao livro.

Pão com Fiambre tem como protagonista Henry Chinaski. Criança no início do livro, adulto no final, amadurecendo ao longo da história. Henry Chinaski, alter-ego assumido pelo autor (também protagonista na sua obra Mulheres), é uma criança solitária que sofre, às vezes sem consciência, da depressão e da guerra que se vive na América. Passado em Los Angeles temos neste livro uma história que será, quase certamente, autobiográfica. Vejamos então as parecenças entre ambos, escritor e personagem "ficcional". Começando com o problema de acne que assolou a sua juventude e se quedou até à sua morte na forma de cicatrizes. Tanto na vida real como na história Bukowski, ou Chinaski, são obrigados a receber tratamento médico num hospital através de drenagem com agulhas e tratamentos com ultra-violetas. Esta doença obrigou-o a suspender os estudos durante um ano e a refugiar-se em casa durante um ano para assim tentar resolver o seu problema, no entanto em vão. Com este período de "quarentena", Bukowski descobre o que viria a ser a essência da sua vida que estava para vir: o álcool e os livros. Esse destruidor de fígados iria perseguir o escritor até ao último dia da sua vida. Alcoólico,  Bukowski confirmava, ou Chinaski confirmava neste caso, que era o álcool que o impedia de se suicidar. Era nele que gastava grande parte do seu dinheiro e era também com ele que ganhava bastante dinheiro através de jogos de bebida. Nos livros, Chinaski descobriu outros como ele. Autores também eles amargurados ou de escrita amargurada. Autores que tal como ele exprimiam os seus sentimentos exactamente como eles eram. Sem rodeios ou floreados. Hemingway por exemplo, grande influência de Chinaski. De ler surge também a vontade de escrever com uma máquina de escrever velha (mais uma parecença entre o livro e a vida real). Chinaski escreve vários contos que o próprio não acha particularmente bons, nem tão pouco melhores que o do seu amigo/inimigo Becker. Chinaski era um jovem solitário que se isolava dos restantes maioritariamente devido à sua cara desfigurada pelo problema acneico. A maioria das vezes onde de facto se relacionava com pessoas, era para lutar com elas. A violência é um tema bem presente neste livro onde Chinaski se envolve várias vezes em lutas de corpo a corpo com amigos, rivais de outras escola, ou meros desconhecidos. A família e o ambiente familiar de Chinaski estão também bastante presentes neste romance. Uma mãe submissa dominada por todas as vontades e exigências de um pai controlador e violento, proibitivo e grosseiro que tornou a vida de Chinaski a mais difícil possível.
Neste romance temos descritos um grande número de sentimentos. Os dilemas e problemas de um adolescente vão ganhando desenvolvimento até se tornarem nos dilemas e problemas de um adulto. Um livro forte e tocante que poderá chocar muitos leitores não só pela linguagem utilizada mas também pelo conteúdo do seu enredo. 
Uma obra prima, de alguém mais do que um génio.

6 comentários:

  1. De Bukowski li Correios e Mulheres (em ambos o protagonista é Chinaski, esse seu alter-ego). Gostei de ambos, mas não os posso considerar livros magistrais. São, essencialmente, livros honestos, duros e crus. Conheço-lhe também um ou outro poema (de que gosto, apesar de não ser o meu género favorito). Daí que não partilhe, pelo menos até ao momento, da opinião acerca do génio de Bukowski (que não posso deixar de considerar bom escritor). Quem sabe se uma próxima leitura me convence...

    Boas leituras!

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    1. Há muito que procuro Mulheres, esgotado em bastantes livrarias.
      Claro que existem sempre preferências e este é de facto uma das minhas. Talvez com próximas leituras se torne também a sua caro Carriço ;)

      Boas leituras!

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    2. Ora bem... se o meu exemplar de Mulheres não fosse parte integrante de uma colecção extensa, eu teria todo o gosto em dispensar-lho. Mas podemos sempre acordar um empréstimo, se tiver interesse.
      Eu espero que sim, que numa próxima leitura Bukowski me impressione. Afinal, não é o que queremos sempre que abrimos um livro? :)

      Boas leituras!

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    3. Tenho total interesse num empréstimo. Gosto bastante dessa práctica apesar de nem todos estarem dispostos a isso. Qual é já agora essa extensa colecção?

      Boas leituras!

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    4. Está combinado! É da Colecção Mil Folhas, saída em tempos idos com o Público. Faça-me chegar os seus dados (nome e endereço) para o mail fragmagens[at]gmail[ponto]com e, assim que tiver um tempo, tratarei de lho enviar por CTT.

      Boas leituras!

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  2. Um dos melhores livros que já lí. Muito bem elucidado aqui, para mim o grande feito do velho-buko, é ser autêntico!
    Ser autêntico é um nível acima de ser original, na minha humilde relfexão, autencidade seria a originalidade livre, vindo de dentro!
    É diferente seu jeito de escrever, suas palavras são ditas não para agradarem, mas porque ele deseja dizer. Então muitos não gostarão!
    Aqui no Brasil, este livro é conhecido como misto quente, e o nome original em inglês, quer dizer no que se refere a um lanche barato de padaria!
    Boa leitura, eu também recomendo!
    Gustavo

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